Continuação

Esse carrd é a continuação do primeiro, infelizmente não tenho dinheiro pra continuar tudo em único e foi preciso dividir em dois, mas fiz o máximo possível pra que essa troca entre os dois fosse feita da melhor forma. Também gostaria de agredecer caso você realmente esteja lendo o carrd e esteja interessade, foi trabalhoso de fazer e eu ainda tive pouco tempo pra deixar pronto pro dia 1 de agosto, começo da semana da conscientização sobre o TDAH. Sei que é MUITO texto, mas eu tentei resumir e também pelo menos é tudo em um único lugar. É muito difícil juntar a infinidade de características e diversidade do TDAH, por isso recomendo muito o podcast da Tribo TDAH e o tiktok do Bruno nunes pra mais informações e informações mais detalhadas. Clicar nos nomes vai direcionar você aos perfis no spotify ou no tiktok.

Motivação e dopamina

Então, a dopamina, que é o neurotransmissor responsável pela motivação, é um dos principais fatores que faz o TDAH ser, bom, TDAH. Nós que somos TDAHs temos uma déficit dopaminergico, isso significa que sim, somos desmotivados por natureza. E o que isso afeta?Bom, qualquer coisa que nós de dopamina tende a ser mais fácil e muito melhor pra gente de fazer, pois sentimos que estamos sendo recompensades, a motivação envolve essa sensação de prazer junto.Agora quando algo não nós da dopamina, que normalmente são coisas chatas como lavar a louça e tirar o lixo (mas pode ser qualquer coisa): é insuportável. A gente sofre pra fazer, não temos dopamina o suficiente pra ter motivação pra fazer tal tarefa e mesmo sabendo que é necessário é muito difícil de fazer. Daí você diz "todo mundo tem dificuldade de fazer o que não gosta" sim, mas neurotípicos costumam fazer mesmo não gostando por saber que precisam, pra TDAHs é extramamente difícil mesmo sabendo disso.Por isso sentimos quase uma necessidade em estar sempre inovando algo, consumindo coisas novas: pois o novo, a surpresa e o mistério costumam ser grandes geradores de dopamina (cof cof o celular é uma fonte infinita dela. Pra quem tem tão pouca dopamina, qualquer resquício é muito). E é muito difícil pra gente abrir mão de algo que está nós dando dopamina, que nós traz recompensa a curto prazo pra ir fazer algo chato e que demora pra gente se sentir dessa forma (a gente precisa da dopamina instantânea, se tiver que esperar ela chegar se torna difícil). Lembrando que não é preguiça, a falta de motivação e a disfunção executiva no TDAH são REAIS e geram dificuldades REAIS pra TDAHs em iniciar tarefas, muitas vezes a gente quer, mas a falta de motivação, falta de organização, falta de planejamento e até mesmo a procrastinação causada pela disforia sensível à rejeição nós impede e isso é doloroso pra gente, nós sentimos inferiores muitas vezes.A expectativa também costuma nós dar muita dopamina, algo que você tá esperando, um evento que você marcou que você gosta, uma pessoa que você quer ver e vocês marcaram de se encontrar são grandes fontes de dopamina, mas agora imagina se você, que tava animade e motivade pra esse encontro, recebe uma mensagem da pessoa dizendo que ela não vai poder ir? A nossa motivação despenca, é novamente um 8 e 80 (lembrando que nossa dopamina é menor que a de neurotípicos), se ela tava lá no 80 ela despenca pro 8, além da frustração (e a gente tem uma sensibilidade muito grande à frustração também, muito ligada com toda a questão da desregulação emocional) a gente sente aquela desmotivação tomando conta. Então essa caída drástica pode realmente ferrar com o nosso dia, ninguém gosta de ter as expectativas quebradas, é claro, mas o TDAH já tem uma dopamina baixa e uma desregulação emocional, então pra gente essa frustração é pior ainda.Também por conta da nossa falta de dopamina somos mais propenses a desenvolver vícios (por volta de 6x mais chances do que neurotípicos), uma pesquisa nos estados unidos apontou que 30% das pessoas que usam cocaína pelo país são TDAHs, o motivo disso é que, como dito, nosso cérebro está constantemente em busca de dopamina pra suprir a falta dela e junta isso com essas drogas, maconha, açúcar, cigarro, álcool que costumam ser grandes fontes dopaminergicas e pronto, infelizmente temos essa propensão a criar vícios e até compulsões (como comprar coisas novas o tempo todo) pra tentar alimentar nossa "fome de dopamina".

Memória

É comum que alguém TDAH esqueça coisas como compromissos, tarefas ou outros afazeres (como pagar a conta e ver se o bolo não tá queimando), o TDAH afeta vários tipos de memória.Memória de trabalho"A memória de trabalho é a pequena quantidade de informações que sua mente mantém enquanto você esta trabalhando para completar uma tarefa"É como se fosse a parte do seu cérebro que diz o número do telefone enquanto você está digitando ele. Ela também tem forte relação com a capacidade de aprendizado, por isso TDAHs tem uma certa dificuldade em aprender certas coisas (e obs: isso tem relação com o fato de muitas vezes demorarmos a aprender com nossos erros. Assunto que foi polêmica no twitter e causou hate em uma pessoa TDAH).Como nossa memória de trabalho é fraca comparada à de neurotípicos, é comum que a gente tente desenvolver formas alternativas de aprender algo que não dependa tanto da memória de trabalho.
A percepção de tempo também tem ligação com ela.
Explicando de uma forma mais simples: ela é a memória de curto prazo, ela capta a informação recém recebida, processa ela e a transforma em uma informação útil e depois disso essa informação passa pra memória de longo prazo.A memória de trabalho tem relação com:Reordenação: Mantendo e reorganizando informações.Atualização: Monitorando informações recebidas e substituindo informações desatualizadas por outras mais relevantes.Processamento duplo: manter a informação na mente enquanto realiza outra tarefa.A memória de trabalho no TDAH pode afetar:Nosso desempenho escolar, organização, processamento de emoções e relacionamentos sociais.A memória de trabalho também afeta como nossas informações são armazenadas e nossa capacidade de seguir instruções como listas de compras ou coisas que precisam de etapas como "acordar, escovar os dentes, tomar banho, se vestir, comer, arrumar a mochila..."Ela também afeta áreas como literatura e matemática.Memória de longo prazoPor conta da nossa dificuldade com aprendizagem, temos uma memória de longo prazo que tende a ter uma habilidade mais limitada, é algo causado não pelo TDAH em si e sim pelas dificuldades de aprendizagem que podemos ter, ou seja: pela memória de trabalho.Por conta da memória de trabalho, podemos armazenar a informação de forma desorganizada, fazendo com que ela seja menos útil ou nem entre na memória de longo prazo."Quanto tempo é a memória de longo prazo?"Ela é responsável tanto por guardar sua memória de anos atrás quanto qualquer coisa nova que seu cérebro acha que deva ser armazenado nela. Por exemplo, eu posso assistir um filme e ter gostado muito de uma cena em específico, a minha memória de trabalho vai processar essa cena e ela vai ser armazenada na memória de longo prazo, isso acontece em instantes. Então, quando alguém te perguntar no final do filme qual foi sua cena favorita essa informação vai ser retirada da memória de longo prazo.Memória prospectivaA memória prospectiva é a memória relacionada ao futuro, a algo que vai acontecer, compromissos agendados como consultas médicas, reuniões, encontros e etcEssa memória também é afetada pelo TDAH.E neurotípicos que convivem com a gente muitas vezes não entendem como podemos esquecer de coisas como essas com tanta facilidade, mas lembrar de fatos aleatórios tão facilmente também.Um exemplo da memória prospectiva em uso é: você ter que passar em uma loja por algum motivo, seja pra devolver algo ou comprar algo, mas pra isso acontecer sua memória prospectiva precisa ser ativada no momento certo, um pouco antes de passar pelo lugar. No TDAH isso pode simplesmente não acontecer, podemos acabar lembrando apenas horas depois que já passamos pela loja ou lembrar um pouco antes de passar por ela, mas esquecer rapidamente disso. É como "perder o timing" para as coisas, que seria perder o tempo certo de fazer algo, nesse caso lembrar de alguma coisa.E pode parecer que isso não causa muitos problemas, mas sempre depende do que esquecemos. Tem gente que acaba esquecendo de pegar o filho na escola, por exemplo. Essas coisas costumam ser eventuais para neurotípicos, mas em TDAHs acontece com uma frequência maior.Queria ressaltar que: não é nossa culpa, não é irresponsabilidade e nem sempre botar alertas, bilhetes ou usar outros tipos de técnicas para lembrar das coisas funciona.

Miopia temporal e empatia

Miopia temporalO TDAH tem uma característica que afeta nossa percepção de tempo, ela pode ser chamada de "miopia temporal", mas também é comum vermos pessoas falarem dela usando "senso de tempo" ou até "cegueira de tempo" (não usem essa última, ela é capacitista).Essa característica pode confundir neurotípicos um pouco, afinal qual a dificuldade em olhar um relógio, né? Como você não sabe quanto tempo leva pra se arrumar pra sair?Bom, pra a gente não é tão simples assim (e pelo amor de deus, não façam comentários inconvenientes como os citados acima).Nossa percepção de tempo pode nós botar em algumas situações bem ruins, já que usamos o tempo pra praticamente tudo no nosso dia-a-dia, como assar um bolo, tomar banho, nós arrumarmos pra sair e controlar quantas atividades vamos fazer durante o dia e quando uma deve terminar e outra começar pra conseguir fazer todas.Por causa da nossa miopia temporal coisas como marcar um encontro às 18h e chegar horas ou quase isso atrasades podem ser comuns, mas não é algo proposital e costumamos sentir muita culpa por isso (o TDAH no geral se culpa o tempo todo, principalmente porque as pessoas a nossa voltam sempre deixam claro como tal atividade deveria ser algo tão básico).As pessoas costumam achar que isso é falta de compromisso ou que simplesmente não nós importamos, mas isso não é verdade. Vocês precisam lembrar que o conceito de tempo e o gerenciamento dele são coisas que aprendemos e não uma habilidade que nascemos com, isso para neurotípicos também, para TDAHs esse conceito e principalmente o gerenciamento dele são coisas difíceis de aprender (uma pessoa com TDAH não diagnósticada ou que está sem poder fazer tratamento sofre mais ainda pra aprender isso)Nós não somos irresponsáveis por causa disso, nosso cérebro é assim e pode acreditar, a gente se sente mal o suficiente por isso sozinhos sem a necessidade de você fazer comentários desnecessários. As pessoas acharem que não nós importamos também dói e faz com que a gente se sinta até insuficiente.A miopia temporal é como não sentir o tempo da forma certa, sabemos que ele existe, mas para a gente pode parecer que passou 10 minutos quando passou 30 ou parecer que passou 30 quando passou 10, isso dificulta para a gente saber quanto tempo leva pra cada atividade e etc. (cof cof eu ficando no banho quase 1 hora achando que passou 20 minutos)Existe uma analogia usando daltonismo pra tentar explicar a miopia temporal que seria: uma pessoa daltônica sabe que as cores existem e que existem diferenças entre elas, isso não significa que ela consiga ver ou diferenciá-las, o mesmo serve para miopia temporal, porém invés de cores é tempo.E o relógio? bom, é fácil de esquecer de olhar ele ou até que ele existe quando você é TDAH ou perder o tempo de olhar o relógio.Juntando a miopia temporal com nossa desregulação emocional, disforia sensível à rejeição e sensibilidade à frustração, situações bem perigosas podem acontecer.Uma pessoa TDAH deu o exemplo de que acabou indo no médico um dia antes do dia que a consulta era, o problema é que como ela iria sair pediu para o marido faltar ao trabalho pra ficar de olho no filho, ou seja: ele acabou faltando o trabalho "por nada" e isso fez com que ela começasse a ter pensamentos autodepreciativos como: "minha família estaria melhor sem mim". Esse tipo de situação pode arruinar nosso dia.Nós que somos TDAHs sofremos muito por qualquer mínimo erro que cometemos e isso nós faz ter uma propensão maior a desenvolver atos de automutilação, depressão e outros transtornos. Também é interessante dizer que muitas vezes a depressão no TDAH tem muita relação com cansaço.Infelizmente a miopia temporal nós bota em muitos mal-entendidos pois raramente neurotípicos entendem que não fazemos de propósito e que não temos muito controle, não é irresponsabilidade e nem nossa culpa.Nossa miopia temporal não é algo pessoal, não tem relação com nenhuma pessoa, a falta de compreensão e essa fama que recebemos de sermos "egoístas", principalmente vinda da família, causa muitos machucados que são difíceis de curar, muitas vezes a tendência é que a gente se afaste da família por isso.EmpatiaJá foi dito como somos muito sensíveis à basicamente tudo, certo? bom, essa sensibilidade também influência na nossa empatia. Por mais que muitas vezes sejamos vistes como egoístas isso não é de fato verdade (não pra todos os TDAHs pelo menos, lembrando que é um espectro e que existem pessoas ruins em todos os lugares).Mas nossa alta sensibilidade significa que podemos ser extremamente empáticos, por isso muitas vezes podemos ser bons em acolher e compreender os sentimentos das pessoas de forma mais fácil, podemos ter uma facilidade em ler as emoções das pessoas, às vezes antes mesmo delas serem expressadas. Essa é uma das características que faz com que TDAHs muitas vezes sejam considerados bons amigos para outras pessoas.Em contrapartida como dito somos propenses a ter disforia sensível à rejeição, que muitas vezes dificulta que expressemos e compreendemos nossas próprias emoções.Falando como eu, Aled, queria lembrar também que sim: temos muita empatia pra dar, mas também temos muita atenção pra tudo, hiperatividade e uma propensão a ter dificuldade com interpretação, ou seja: não é sempre que vamos entender o que você quer dizer, o que está sentindo ou notar algo sozinhos, isso não significa que não temos empatia, só significa que precisamos de paciência pra entender e notar as coisas.

Hiperatividade

O cérebro TDAH é hiperativo, ponto. Todo TDAH vai ter uma mente hiperativa. A gente se perde nos próprios pensamentos de tanto que temos e é essa a razão de existirem TDAHs que são quietos, mais na deles e que muitas vezes as pessoas olham e pensam "impossível essa pessoa daí ser hiperativa". É claro que pensam isso, elas não podem ver o turbilhão que é dentro da nossa mente.Existe também a hiperatividade física que pode ou não se manifestar em TDAHs e também se manifesta de formas diferentes, ela é conhecida como o "não parar quieto", mas vai além disso, um exemplo é a existência dos stims como meio de externar sua hiperatividade, fato que é mencionado na aba dos stims.Outro fator importante de falar sobre é que a hiperatividade e o TDAH como um todo envelhece com a gente, assim como crianças neurotípicas crescem e mudam de comportamento ao passar dos anos, crianças TDAHs também e o TDAH se adapta a cada mudança e ambiente que vivemos, então uma criança não tem tanta consciência de que subir na mesa talvez não seja muito adequado, ela não tem tanto controle sobre isso também, coisa que um TDAH adulto já tem mais do que quando era criança, ou seja: ele não deixou de ser hiperativo ele apenas aprendeu a segurar a própria hiperatividade e a externar ou não ela de outras formas.Eu quando estou em público costumo ser extremamente quieto, faço uso de alguns stim toys ou stims discretos que eu tenho como meio de externar minha hiperatividade fora de casa (como balançar a perna, morder a boca ou um tipo de movimento que faço com os dedos), já em casa eu costumo não me prender tanto a isso e posso "ser eu mesmo" se estiver sozinho, fico caminhando pela casa, tendo stims de forma mais intensa e enfim.Outra coisa importante: ser hiperativo é cansativo. Todas as características do TDAH somadas, a hiperatividade, a disfunção executiva, a desregulação emocional, a hipersensibilidade, tudo isso requer muita energia e muitos TDAHs tem vergonha de admitir isso. "eu não fiz nada, como posso estar cansade?" Pensar cansa! E não só nossos pensamentos, é toda a informação sensorial que estamos recebendo inconscientemente também, nós ficamos exaustes, precisamos descansar com muita mais frequência que neurotípicos.

Atenção e hiperfoco

Atenção, hiperfoco e interesse especialUm dos critérios principais pro diagnóstico do TDAH é a desatenção, mas na prática o que ela é e como funciona a atenção no TDAH? somos realmente incapazes de manter o foco em algo?Não, não somos. A atenção no TDAH na verdade é mais como uma falta de regulação dela, não conseguimos direcionar nossa atenção para aquilo que desejamos e por isso ela costuma voar de tópico em tópico, seja em atividades no geral, pessoas falando, pensamentos ou objetos na sala, qualquer coisa pode ser um alvo do nosso foco momentâneo, então a verdade é que temos muita atenção, mas ela está sendo distribuída pra tantos sentidos que fica difícil manter ela em uma única coisa por um tempo longo, e quanto mais coisas estiverem acontecendo no ambiente mais difícil isso se torna (ainda assim a gente se perde até nos nossos próprios pensamentos, nossa atenção nunca de fato funciona como a de neurotípicos já que ela é diferente por si só)
E é essa dificuldade em direcionar o nosso foco que torna o hiperfoco possível e comum (não obrigatório) em TDAHs. O hiperfoco é um estado do nosso cérebro onde ficamos absortos em algo de forma profunda, estamos tão focados em determinada coisa (que pode ser literalmente qualquer uma, como jogos, filmes, séries, livros, pessoas, animais, objetos, profissões, trabalhos e uma infinidade de coisas, hiperfocamos naquilo que nós da dopamina, sendo algo prazeroso pra gente) que podemos perder a noção de tempo e do ambiente a nossa volta, ou seja, podemos ficar 5 horas jogando um jogo ou assistindo uma série e não fazer ideia disso até vermos o horário (quantas madrugadas eu já virei por estar hiperfocado e muitas vezes não conseguir parar de pensar e absorver conteúdo sobre o assunto em que estava hiperfocado) podemos acabar deixando responsabilidades nossas de lado, até mesmo comer, dormir e cuidar da nossa higiene. Podemos acabar não ouvindo alguém falar com a gente também. O hiperfoco pode ou não ser algo benéfico (no sentido: tem gente que hiperfoca em algo e esse hiperfoco ajuda a pessoa a produzir algo incrível), às vezes o hiperfoco é só algo que temos interesse e tá tudo bem.
Não existe um tempo determinado de quanto o hiperfoco dura, pode levar horas ou dias pra ele acabar, sendo o segundo perigoso SE a pessoa que estiver hiperfocada não estiver se cuidando. O hiperfoco é um estado exclusivo de pessoas neurodivergentes, muito comum no TDAH e no autismo. (ou seja neurotípicos não hiperfocam). O hiperfoco pode acabar de repente e pode ser que quando isso aconteça a gente simplesmente nunca mais fale sobre o que estávamos hiperfocades.Existe também algo chamado "interesse especial" que é basicamente quando temos um interesse muito grande por algo, normalmente sendo um assunto, objeto, conteúdo, personagem e etc que nós traz conforto de alguma forma. Esse interesse especial costuma ser um alvo de hiperfoco, já que é comum a gente ver pessoas neurodivergentes falarem coisas como "faz 3 anos que tenho hiperfoco nisso" ou coisas assim.A pessoa dificilmente (nunca conheci alguém que tivesse e nem sei se é de fato possível) ficou hiperfocada todos os dias 24/7 nesses 3 anos naquela única coisa, normalmente quando falamos isso queremos dizer que temos um interesse especial no qual nosso hiperfoco frequentemente volta nele.Um exemplo prático é: Eu tenho hiperfoco em Genshin Impact, um jogo que atualiza com novos conteúdos todo mês aliás, eu também tenho interesse especial nele desde dezembro de 2020.Isso significa que durante a semana ou durante o mês eu costumo hiperfocar em Genshin algumas vezes, isso envolve eu querer muito falar sobre, seja tweetando muita coisa sobre o jogo, falando com meu namorado (e eu sei que posso até exagerar no tanto que falo quando tô hiperfocado, já contei a história inteira de uma série com 20 episódios e com detalhes pra ele)... eu fico bem eufórico sobre qualquer coisa relacionada ao meu hiperfoco, faço edits ou consumo edits nas redes sociais, busco vídeos e opiniões de outras pessoas e enfim, cada pessoa hiperfocada pode ter suas diversificação, eu fico assim.O hiperfoco não é prejudicial pra gente no geral, ele é como uma fonte de dopamina pra nós que costumamos gostar de falar sobre (e ficar bem chateades se vocês reclamarem do quanto a gente tá falando mesmo que não faça sentido pra você).E bom, aprendendo sobre o hiperfoco você também entende que a atenção do TDAH é um 8 e 80, às vezes estamos hiperfocados por horas e às vezes a nossa atenção simplesmente não consegue se manter em algo por alguns minutos sem se desviar.

TDA e subtipos

Vamos direito ao ponto: TDA não existe mais.O TDA nada mais é do que uma forma errônea de se chamar o tipo predominante desatento do TDAH, ele não existe como uma condição sozinha como muitos acreditam e tecnicamente TDA sequer pode ser diagnosticado nos dias de hoje, pois não faz parte do DSM mais. O correto é TDAH com tipo predominante desatento! e é assim desde 1994.
TDA é uma forma velha, errada e em desuso de se chamar o TDAH.
Em 1980 com o DSM-3 foi lançado o nome oficial, na época, do TDAH.
Que era Transtorno de déficit de atenção (que seria o equivalente a dda ou tda no português). E existiam dois subtipos, TDA com hiperatividade e TDA sem hiperatividade.
Em 1987 esse nome foi substituído e se tornou TDAH, isso significa que a hiperatividade começou a ser considerada uma característica mais importante.Em 1994 o DSM-4 foi publicado com uma diferença, invés de: "transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade" se tornou: "transtorno de déficit de atenção e hiperatividade", sinalizando que era possível ter ambos ou ter os subtipos.os subtipos eram:• Tipo combinado;
• Tipo predominantemente desatento;
• Tipo predominantemente hiperativo.
Em 2013 no DSM-5 quase nada mudou, só substituíram o termo "subtipo" por "apresentações", seria algo como "apresentação combinada" e etc.
E no DSM-5 também começou a ser levado em consideração maior as características do TDAH em adultos.
Ainda existem pessoas que usam o termo TDA pra se referir ao tipo predominantemente desatento, mas isso é errado e deve entrar em desuso.E o DSM-5 diz que pessoas TDAHs podem fluir durante a vida entre os tipos então uma criança que era predominante hiperativa pode se tornar um adolescente ou adulto predominante desatento ou com o tipo combinado.Vou falar um pouco sobre os subtipos/apresentações agora.TDAH tipo desatento:• Atenção de curto tempo;
• Se distraí facilmente;
• Dificuldade em prestar atenção em detalhes;
• Dificuldade em ouvir quando falam com você;
• Esquecimento nas atividades cotidianas;
• Perde objetos com frequência;
• Dificuldade pra se envolver em tarefas e atividades organizadas;
• Acha difícil seguir instruções.
TDAH tipo impulsivo-hiperativoImpulsividade:
• Interromper os outros;
• Agir sem pensar;
• Ter dificuldade em esperar a sua vez;
• Responder uma pergunta antes dela ser feita direito.
Hiperatividade:
• Inquietação;
• Falar excessivamente;
• Não conseguir se concentrar em uma tarefa de cada vez;
• Não conseguir se envolver em qualquer atividade de forma silenciosa.
O tipo combinado apresenta características de ambos os tipos acima, é o mais comum e exige a apresentação de 6 ou mais características de cada tipo, obviamente não foram mencionadas todas as características de cada um.Alguém predominante hiperativo-impulsivo apresenta algumas características de desatenção e vice-versa, a quantidade dessas características que determina se ela é predominante hiperativa-impulsiva, desatenta ou tipo combinado.
O tipo combinado significa que você tende a ter uma distribuição de características mais igualada entre desatenção, hiperatividade e impulsividade.
O motivo da mudança do termo "subtipo" pra "apresentação" é que o segundo dá a entender a fluidez que existe, já subtipo parece soar como algo fixo.
Características de hiperatividade-impulsividade tendem a diminuir com a idade, uma criança que não conseguia "parar quieta" pode se tornar um adulto que mesmo se sentindo inquieto consegue ficar parado quando precisa. (observação: pessoalmente eu imagino que venha um pouco do fator masking hein).
Mas vamos lá, não confundam predominância com ausência, TODA pessoa TDAH tem os 3: desatenção, hiperatividade e impulsividade, não existe TDAH sem um desses.A predominância é sobre qual dos 3 critérios de diagnóstico você apresenta mais, com maior frequência ou externa mais, e não sobre ter e não ter. Até porque existem tipos de hiperatividade (hiperatividade mental, hiperatividade por meio de stims...)

Masking

Traduzido do inglês significa "mascarar", nada mais é do que fingir que não somos TDAHs, visto como uma camuflagem onde camuflamos nossas características o máximo que conseguimos, com o objetivo de nos encaixarmos socialmente, evitar a rejeição e estigmação e nós sentirmos aceites.Podemos tentar mascarar nossa hiperatividade parecendo que somos pessoas "calmas", sentar de forma "adequada" ou responder às pessoas como elas esperam, mesmo que nossa mente esteja um caos. Também pode ser a gente tentando focar em algo ou alguém completamente pra tentar evitar distração ou impulsividade, estudos dizem que o conceito de masking pode ser muito complexo pra neurotípicos entenderem e até difícil de acreditarem, sendo o masking um dos motivos de algumas pessoas TDAHs demorarem a receber o diagnóstico, muitas vezes a pessoa TDAH tem vergonha ou medo de admitir que está omitindo as próprias características e raramente profissionais se ligam de perguntar.Pra mascarar nossas características nós fazemos uso do mirroring, que é nos espelhar em outras pessoas, ver como elas se comportam e tentar ser igual. Decorar e treinar falas e expressões faciais, reprimir nossas emoções, reações e stims são todas coisas do mascaramento que fazemos, usamos esse mecanismo como uma forma de enfrentar o mundo, mas uma hora ou outra o ato de mascarar sempre acaba ficando difícil.Alguns exemplos de masking:• Ficar muito quieto e tomar cuidado excessivo com o que fala ou quanto fala;• Verificar quase que de forma obsessiva suas coisas pra ter certeza de que não esqueceu nada ou perdeu algo;• Reagir como esperam e não como você se sente;• Fingir estar bem e não demonstrar que está com problemas quando por dentro você está "lutando" muito contra algo;• Arrumar a casa de forma excessiva mesmo que te sobrecarregue;• Esconder a hiperatividade com calmaria mesmo que dentro da sua mente esteja difícil se concentrar e esteja pulando de tópico em tópico rapidamente, tornando difícil processar o que as pessoas estão dizendo;• Não conseguir relaxar quando tem compromissos, chegando muito cedo pra tentar contornar sua falta de noção de tempo;• Tentar focar demais no que as pessoas dizem pra tentar não perder nenhuma palavra;• Fazer anotações de forma excessiva como meio pra tentar não esquecer de nada;• Prender suas emoções dentro de você até se sentir mal sem saber o motivo;• Dizer que está doente pra evitar ser colocade em situações onde possa ficar sobrecarregade ou ansiose;• Ficar irritade quando você se força a manter o foco em algo desinteressante por muito tempo;•Assumir muitas responsabilidades pra tentar compensar o que você considera falhas;• Tentar lidar com o mundo desenvolvendo tendências perfeccionistas (por exemplo, esperando que você nunca cometa erros, criando expectativa em cima de você mesme);• Exagerar em algo mesmo que isso te deixe exauste com o objetivo de fazer as pessoas te acharem incrível e confiável, mesmo sendo difícil pra você;• Esconder que você está sobrecarregade pelas suas responsabilidades e sentir vergonha disso;• Sentir necessidade de sempre ter tudo sob controle pra evitar sentir vergonha quando outras pessoas vêm seus esforços;• Esconder stims mesmo que você se sinta desconfortável ficando parade;• Imitar as pessoas para ser aceite.O masking dificulta que sejamos diagnosticades, às vezes a pessoa nem tem consciência de que está fazendo masking já que fazemos isso como uma forma de autodefesa, fazendo com que ela sequer desconfie que possa ser TDAH e isso pode acarretar em desenvolvimento de ansiedade e depressão. Às vezes a pessoa é tão boa em mascarar suas características que quando diz a verdade as outras pessoas podem não acreditar.
O masking pode nos levar a criar dependências químicas (vícios), como forma de tentar lidar com nossos sentimentos internos. Por conta dele podemos até desenvolver uma dificuldade em saber o que é real e o que é fingimento, a gente sente como se não fossemos nós mesmes e estivéssemos constantemente imitando outras pessoas e sendo outra pessoa pra agradar alguém.
Por mais que o mascaramento seja uma forma de autodefesa que desenvolvemos, afinal aprendemos que temos que mascarar nossas características por conta de como o mundo nós trata desde crianças, o mascaramento é uma tentativa de evitar a dor, a frustração e a decepção que temos com nós mesmes e que as outras pessoas costumam demonstrar conosco, mas ele nós deixa exaustes. Passamos o dia tendo que lidar com nossas características, com nossa disfunção executiva, desregulação emocional, desatenção, hiperatividade e etc que já nós deixam cansades pela quantidade de energia mental gasta processando tanta coisa pra então gastar ainda mais energia tentando esconder todas essas coisas.
E o masking não é uma cura, nossas características não desaparecem e nem diminuem, apenas nós impede de sermos nós mesmos e externar isso, o que é doloroso e prejudicial.